sexta-feira, 8 de setembro de 2006

O LEITOR DECIDE

Exponho aos leitores um dilema. No domingo escrevi a nota "Xenófobo e descabido", na qual me reportava à uma nota publicada no jornal Página 20 em decorrência da reportagem "Japão filma geoglifos" .

Um dos leitores, Eduardo Marques, da assessoria do senador Tião Viana (PT), pediu-me então para que desse dica de como avistar os geoglifos do Acre com o uso da ferramenta Google Earth.

Aproveitei a oportunidade para indicar duas coordenadas geográficas - uma repassada pelo estudante universitário Davi Sopchaki e outra que eu mesmo obtive a partir daquela.

Porém, na quarta-feira, o diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Acre, Fernando Figali Moreira Júnior, telefonou pedindo para que removesse do blog as coordenadas. Ele argumentou que havia contatado a direção do órgão em Brasília e dela teria recebido orientação para pedir a supressão das coordenadas.

Argumentei que achava descabido o pedido, pois o mesmo soava como censura, além de considerar mais grave o fato de que vários geoglifos têm sido afetados pela instalação de postes de transmissão de energia elétrica e até por fazendeiros que usaram tratores para formar barragens para açudes nos sítios arqueológicos.

Figali argumentou que seria sensato de minha parte retirar as coordenadas porque o Iphan não dispõe de fiscais e essa realidade seria agravada caso comece a chegar turistas ao Acre apenas para conhecer os geoglifos. Foi então que solicitei que apresentasse publicamente, no blog, o pedido para a retirada das coordenadas geográfias.

Em breve, os pesquisadores Foster Brown, Roberto Feres e Alceu Ranzi vão assinar um artigo científico numa publicação dos EUA sobre o uso do Google Earth, que possibilitou triplicar a identificação dos geoglifos no Acre.

Bem, os leitores vão decidir se devo remover ou não as duas coordenadas geográficas contidas na caixa de comentários deste blog. Segue a mensagem do diretor do Iphan:


"Caro Altino,

Gostaria salientar a todos que acompanham as informações sobre os sítios arqueológicos do Acre (os chamados “geoglifos”), que, embora tenham, sim, um imenso potencial turístico, também eles têm um imenso potencial científico, acadêmico, em última instância; e este potencial tem que preceder o outro.

Não podemos convidar o público a visitar os sítios se não temos uma estrutura mínima para recebê-los e ao mesmo tempo garantir a integridade física deste patrimônio, que é, sem dúvida nenhuma, muito mais frágil do que parece.

No início de 2005, por exemplo, recebemos a denúncia de que uma expedição, organizada por curiosos, teria estado no sítio denominado Serra da Muralha, em Rondônia, mesmo recebendo uma negativa do proprietário das terras onde se localiza o sítio, como também uma negativa do próprio IPHAN, instituição responsável pela fiscalização e proteção do patrimônio arqueológico no Brasil.

Ou seja, criou-se um conflito e colocou-se em risco a integridade do sítio. Somos sabedores, é claro, dos diversos problemas relacionados aos sítios arqueológicos no Acre, entretanto, dar publicidade à localização dos sítios pode acarretar uma demanda extremamente negativa, da qual não teríamos condições de garantir a preservação deste patrimônio.

Desenha-se, atualmente, um quadro muito favorável para a construção de uma pratica de pesquisa e uma conseqüente consolidação dos estudos arqueológicos no Estado. Precisamos buscar a consolidação de parcerias que incluam, além do Governo Federal, através do IPHAN, e do governo do Estado, prefeituras e universidades, para que possamos, juntos, garantir a proteção, e aí sim, garantir também a promoção do patrimônio arqueológico do Estado.

Temos certeza de que podemos contar com a parceria da imprensa acreana nesta missão, pois acreditamos que grande parte desses problemas poderão ser minimizados através do correto trato da informação, como também de ações de Educação e fiscalização.

Sem mais para o momento, nos colocamos à disposição para qualquer dúvida referente a atuação do IPHAN no Estado".

8 comentários:

Anônimo disse...

Caro Altino
eu sou a favor de não divulgar as coordenadas enquanto não se criem as condições de acesso para evitar a perda de informações preciosas para a ciência e de fonte de renda futura para o turismo. Isso somente acontecerá se o sítio estiver protegido. Mary

Anônimo disse...

"a verdade vem sempre ao de cima".
Publique as coordenadas!

abraço
Ricardo
http://solasnamesa.blogspot.com/

Anônimo disse...

Sou contra a não-divulgação das coordenadas. Os geoglifos já são conhecidos em várias partes do mundo(vide reportágem sobre os japoneses apresentando um documentário sobre eles). Algo que eu considero muito, mas muito mais chamativo do que uma mera imagem de satélite, e até agora pelo menos que eu saiba, não é costumeiro vir várias caravanas de turistas todos os dias para cá. É claro que o local precisa ter mais infra-estrutura para receber turistas, mas não é algo que não se resolva em alguns meses, além disso é mais importante não fazer estradas e postes por cima deles...

Anônimo disse...

Não entendo muito bem por que a Ciencia de uma forma geral se preocupa com a publicação de informações verdadeiras?

Acho que a Ciencia não conhece o significado da liberdade de imprensa.

Acho que a Ciencia tem um rei dentro da barriga.

A Ciencia se preocupa com tanta coisa, que se preocupa inclusive com a publicação de coordenadas de um Geoglifo num blog.

Enquanto qualquer usuário de internet pode baixar o programa google earth da rede e sair procurando o que quiser com imagens via satélite do grande Google.

Mas a Ciencia prefere encher o saco Altino do que mandar um emais desaforado pro Google que insiste em invadir a nossa privacidade!

Grande Ciencia!

Aff...
Tenha santa Paciencia!

Anônimo disse...

Sou contra a não-divulgação das coordenadas.

Anônimo disse...

Sou 100 % favorável a publicação das coordenadas dos geoglifos. Não se preocupem com isto, as imagens de satélites permitem detectá-los, mesmo com aquelas do Google Earth. Não podemos podar as descobertas, devemos ordenar o uso, quando este esiver fora de controle.

Anônimo disse...

Altino
Há uns 4 anos viajei, com minha esposa, pelos Andes da Bolívia e do Chile. A pretenção era fazer o máximo fora de estradas. Para isto consultei mapas e imagens na internet. Na época encontrei tudo o que precisava sobre a Bolívia e muito pouco sobre o Chile que, até então, não permitia a divlgação de imagens de satélite e mapas detalhados de várias regiões. Consequência: a viagem pela Bolívia foi perfeita, extremamente dura, mas dentro do planejado para cada etapa. No Chile nos perdemos feio em uma região mineira entre 4.000 e 5.000 metros de altitude, o que poderia ter tido consequencias desagradáveis não fosse o auxílio prestado por funcionários de uma mina e por gendarmes.
Hoje se encontra na internet, inclusive no Google, imagens e mapas de qualquer lugar do Chile. De qualquer forma a ausência de imagens e mapas não nos impediu de percorrer todos os caminhos e trilhas que encontramos.Na verdade, pela ausência das imagens andamos por muitos outros locais além dos que pretendíamos. Por isso sou a favor de divulgaçãop de imagens, mapas, coordenadas, etc. O Estado que se mobilize e se agilize´para cumprir suas funções e se adapte para as tecnologias existentes. Talvez a pouca visitação aos locais seja encarada como motivo para não se fazer nada a respeito da proteção dos mesmos. Provavelmente um aumento da procura (e das discussões)sirva de estímulo para que os órgãos governamentais aumentem sua preocupação e ação.

Anônimo disse...

Caro Altino:

Antes de mais nada, meus parabéns pela sua iniciativa na divulgação dos geoglifos.
Não sei se você decidiu por publicar ou não as coordenadas dos sítios, mas caso lhe interesse, aqui vão algumas obtidas pelo Google Earth:
- 10° 1'42.47"S 67°43'42.95"W

- 10° 5'48.30"S 67°39'32.34"W

- 10° 5'51.86"S 67°39'32.57"W

Abraços,

Celso (celsocad@cfaraujo.eng.br)