quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

KAMBÔ E BIOPIRATAS

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda está providenciando a proibição do comércio da vacina do sapo kambô, mas desde abril do ano passado está suspensa, em todos os veículos de comunicação do Brasil, qualquer propaganda que atribua propriedades terapêuticas ao produto.

Caso veículos de comunicação, empresas e pessoas físicas descumpram a determinação, ficam sujeitos às penalidades previstas na Lei nº 6.437/77, como notificação, autuação e multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão.

Vários charlatões no país, que se dizem "terapeutas indígenas", têm abusado da boa fé dos índios do Acre para obter a secreção cristalizada do sapo. Depois eles usam a internet para atrair pessoas com promessas de curas milagrosas para todos os males.

Em troca de algumas moedas, víveres e roupas, os charlatões obtêm dos índios do Acre as paletas com a "vacina" e as comercializam por R$ 18 mil, sobretudo no Rio, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Cada paleta contém cerca de 200 doses.

Caso emblemático envolve a "terapeuta indígena" Sônia Menezes, que no ano passado chegou a ser expulsa pelos índios katukina, com auxílio da Funai e da Polícia Federal, da aldeia Campinas, na BR-364, em Cruzeiro do Sul.

A biopirataria que vem sendo praticada contra os índios do Acre tem sido duramente criticada pelas organizações de apoio ao movimento indígena. A Anvisa, Ministério do Meio Ambiente, Funai e Polícia Federal investigam os envolvidos na propaganda e comércio do sapo kambô.

Quem for flagrado transportando kambô também pode responder processo por crime ambiental. Detalhes sobre a resolução da Anvisa que proibe a propaganda do kambô podem ser acessados clicando aqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

Altino,

Esta mentalidade proibitiva que você, ao que parece, começou a apoiar com relaçao ao kampo deveria ser repensada. Por que?

1 A disseminação do kampo no meio urbano - por mais problemática que possa estar sendo - cria maior visibilidade ao potencial comprovado do sapo, ajudando as comunidades que tradicionalmente detém este conhecimento em vários níveis - desde a auto estima étnica através do reconhecimento de um público bem mais amplo dos saberes ancestrais, até na própria criação e andamento de projetos estatais ou não-estatais que pretendam estudar ou apoiar iniciativas relacionadas ao kampo. Bom para os indígenas e para o país no qual eles habitam. Você já pensou que estes caminhos das "terapias indígenas" - não frequento, confio e tampouco simpatizo com estas pessoas - é um viés pelo qual os indígenas se tornam agentes centrais devido a atribuição, por parte dos urbanos, de uma sabedoria ancestral a eles?

2 Por que um indígena deve ser proibido de aplicar uma medicina por ele utilizada em algum não- índio interessado? Por que a Anvisa ou qualquer orgão estatal não aplicou o carimbo de garantia no kampo? E toda a bagagem dos aplicadores indígenas, nestes momentos, não serve de nada?

Bom, só alguma coisa para refletirmos, devemos pensar a quem interessa estancar o uso do kampo enquanto tal nas aldeias até que um remédio de prateleira seja estraido dele para beneficiar as contas de alguma mega industria farmacêutica na Europa ou E.U.A.
O kampo´pode ser uma grande medicina, se for comprovado porque não utilizá-lo como se fez sempre, ouseja da forma mais simples possível?

Joaquim Navarro

Anônimo disse...

Rapaz, me tire da sua análise. Sou apenas jornalista. Foram os índios quem pressionaram a Anvisa pela resolução. Releia a sequência do que está no blog para compreender melhor aquilo que você denomina como sendo minha "mentalidade proibitiva".

Anônimo disse...

Nossa, que confusao por causa de um sapo tao pequeno e afinal tao bom de se comer. Bom, desde que comecou essa discursao sobre o Kanpun - o meu povo o chama assim, eu, meu avo e outros companheiros indigenas principalmente os Katuquinas que na verdade sao kamanawas ou Varinawas - originalmente e os Kaxinawas ou Huni Kui, temos participado direto dessa problematica. Primeiro nao se esta discutindo apenas a aplicacao do sapo em alguem, mas sim a forma errada, desordenada e perigosa que se esta ultilizando em nao indios principalmente e acima de tudo o comercio ilegal e a propagando enganosa-isso ta parecendo aqueles medicos dando certeza de cura pelas celulas troncos. Nao importa se e indio ou nao quem anda aplicando, qualquer um podia ir numa terra indigena aprender e sair dizendo que e paje? nao podia? entao? mas nao e assim, tudo exige preparacao espiritual e nao e qualquer pessoa que aplica nao, e tambem que tipo de dieta se esta fazendo pra tomar o sapo? quem esta aplicando e paje? e um bom cacador? quem ele e? ou e um preguicoso, mentiroso, ladrao? se for muito cuidado, nossa cultura e contra, nao existe nada comprovado na medicina que o sapo cura doenca, mas na aldeia, na forma que ele e usado, de manha cedo, madrugada, em jejum, bastante caicuma...ai sim,e diferente...nao e pra fazer comercio, nao e pra vender, os mais velhos quando souberam dessa historia ficaram horrizados, revoltados, tristes mesmos, basta o nosso UNI - cipo. Concordo plenamente, temos que proteger nossos conhecimentos, os brancos so sabem o superfolo, nos temos a essencia, a pureza do saber, isso nunca ninguem tira de um povo. Anvisa - tem que proteger mesmo e o INPI tambem. Essa tal Sonia Menezes e uma aproveitadora, os proprios Katukinas sabem disso. Ate casamento ela inventou pra poder se dar bem, que beneficios ela trouxe pra aldeia dos Katukinas, que respeito ela mostrou ao velhos de la? nenhum. Assim como muito e uma pessoa, suja, cruel e ambiciosa. Temos que estar de olho em pessoas assim que nos rodeam a cada dia. E isso ai, quem gostou, gostou, quem nao gostou vai na minha aldeia que a gente toma sapo junto, ai eu quero ver a forca e a coragem de quem e contra nos!