sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

SANTO DAIME

Polícia apreende 840 quilos de cipó
usado na preparação da ayahuasca

Por Tatiana Campos (*)


A Polícia Rodoviária Federal apreendeu ontem 840 quilos de cipó jagube (Banisteriopsis caapi), às 19 horas, numa barreira montada em Vila Extrema (RO). O cipó, usado no preparo da ayahuasca, estava acondicionado em 24 sacos, dentro de um caminhão cujo condutor não dispunha de Autorização para Transporte de Produtos Florestais.

A carga de jagube foi levada pelos policiais para o Posto de Fomento do Ibama, localizado na Vila Acre, em Rio Branco, onde permanecerá até que o processo do caso seja julgado pela justiça. Até lá, o jagube se tornará imprestável para o preparo da ayahuasca, uma bebida usada em rituais religiosos.

O proprietário da carga, identificado por Roberval Francelino da Silva, será enquadrado no artigo 46 da Lei de Crimes Ambientais (9.605) e está sujeito a uma pena que varia de seis meses a um ano de prisão, além de multa que varia de R$ 100 a R$ 300 por quilo de produto apreendido.

- Tudo indica que o cipó foi retirado de território boliviano, o que caracteriza crime de contrabando internacional. O cipó estava sendo levado para Salvador, a capital da Bahia - afirmou Adalberto Dourado, técnico ambiental do Ibama.

Uma equipe do Ibama se deslocou até a Vila Extrema para lavrar o auto de infração contra Roberval Francelino da Silva. A Polícia Rodoviária, que atua apenas como parceira, encaminhou ao Ibama um relatório da apreensão do cipó.

Dourado disse que a comercialização do cipó é permitida, desde que feita em área de manejo autorizada e vistoriada pelo Ibama. "Nenhum produto da floresta pode ser transportado sem que haja a autorização do Ibama, a ATPF”, alertou.

O cipó jagube ou mariri e a folha chacrona ou rainha (Psychotria viridis) são usadas no preparo da ayahuasca, o chá utilizado sobretudo pelos seguidores da doutrina do Santo Daime. Separadas, as duas plantas não têm qualquer efeito sob o organismo, mas, quando fervidas juntas, resultam na ayahuasca, bebida acre-doce, cuja cor é amarronzada.

Estima-se que milhões de dólares são movimentados anualmente pelo comércio internacional da ayahuasca, do turismo religioso, da abertura de centros, do dízimo, da maconha, da cocaína e de outras drogas que têm sido criminosamente associadas nos rituais de algumas seitas. Vários grupos, dentro e fora do país, frequentemente retiram das florestas acreanas, de modo ilegal, milhares de sacos de jagube e chacrona para seus rituais.

A prática tem sido criticada pelos grupos originais da doutrina fundada pelo maranhense Raimundo Irineu Serra, que geralmente têm a imagem associada àqueles que contrariam as regras estabelecidas pelo fundador.

Através da internet já é possível fazer a encomenda de compra de ayahuasca ou de cipó jagube e folha chacrona. Por causa do comércio crescente e da banalização de um ritual considerado sagrado, alguns seguidores temem que a situação acabe por se configurar num problema de saúde pública a ser enfrentado pelas autoridades brasileiras.

O Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (Ciclu- Alto Santo), onde surgiu a doutrina do Santo Daime, dirigido por dona Peregrina Gomes Serra, viúva do mestre Irineu Serra, não possui nenhum outro centro ligado à entidade. Desde a fundação, os seguidores de Irineu Serra são proibidos de convidar pessoas para os rituais do centro.

(*) Tatiana Campos é repórter do jornal A Gazeta.

6 comentários:

Anônimo disse...

Cara Tatiana, como vai?

Em primeiro lugar, parabéns pela notícia.

No entanto, como pesquisador do tema, te digo que sua frase “Separadas, as duas plantas não têm qualquer efeito sob o organismo, mas, quando fervidas juntas, resultam na ayahuasca, bebida acre-doce, cuja cor é amarronzada” está incorreta.

Existem alguns grupos indígenas (como os Maku e os Marubo) que utilizam apenas espécies do cipó. Além disso, existem relatos (como o do pai da etnobotânica moderna, Richard Evans Schultes) de que preparações feitas em água fria, apenas com espécies do cipó, também possuem efeitos psicoativos.

Estes dados são corroborados pelas informações de outros pesquisadores (D.J. McKenna e J.C. Callaway, por exemplo) que afirmam que os principais alcalóides presentes em diferentes espécies de cipó, as beta-carbolinas, possuem efeitos psicoativos.

Tudo de bom,
Rafael G. dos Santos
Instituto de Psicologia - UnB

Anônimo disse...

A melhor punição é fazer os responsáveis plantarem essa quantidade de jagube na mata bruta. Se as autoridades do IBAMA deixarem secar e apodrecer todo esse jagube são tão irresponsáveis como aqueles que tiraram todo esse jagube de nossas florestas sem autorização. Txai Terri.

Anônimo disse...

Feliz comentário do Terri. É o que estamos exigindo aqui no IBAMA do Acre. Para se retirar da floresta tem que plantar. Exigimos o plantio de reposição agora com um roteiro mais simples do que o exigido para o madeireiro. Além disso, a autorização do proprietário da terra onde vai ser colhido o cipó, procedimentos de colheita adequados e o cadastro na página do IBAMA e aqui na gerência, com a entrega de alguns poucos documentos que comprovem a existência legal da instituição.
Pouco a pouco teremos todas as igrejas cadastradas, adotando boas práticas para a colheita e com plantios própiros. Já vai ser, creio eu, um bom avanço.

Júlio Raposo - Eng. Florestal - Analista Ambiental / IBAMA-AC

Anônimo disse...

Ja que vc fez reportagem sobre esta materia se possivel tento descobrir a igreja ceu do parana na grande curitiba referente a santo daime.

Unknown disse...

Permissão para uma pergunta idiota: se o CICLU não permite a presença de visitantes, eles não tendem a desaparecer com o passar dos tempos? Pelo menos é o que acontece na natureza quando os sistemas se fecham em si mesmos!
Barros (Goiânia)

ALTINO MACHADO disse...

Quem está afirmando que não permite a presença de visitante é você. E isso não é verdade. Procura neste blog o Manifesto do Alto Santo para compreender melhor. Saudações.