sexta-feira, 25 de novembro de 2005

FLORA SONORA


Passei uma chuva ontem, à boca-da-noite, no Horto Florestal de Rio Branco, onde acontece até domingo a XI Feira dos Produtos da Floresta. O evento é adequado ao ambiente acreano, mas, infelizmente, não conta com suficiente empenho e investimento financeiro do poder público e da iniciativa privada, que preferem o faroeste das breguíssimas feiras agropecuárias do Acre.

Além dos produtos florestais e agroflorestais, o que mais chamou minha atenção foi a Oficina Som da Floresta, uma bela iniciativa tocada pela Associação Vertente, na qual estão envolvidas 30 crianças dos bairros Wanderley Dantas e Adalberto Sena, com o apoio da Secretaria Estadual de Educação.

É impressionante ouvir a música que as crianças, de cinco a 13 anos, tiram de bumbos confeccionados de latas de tintas, chocalhos de garrafas peti, canos e tantos outros instrumentos de percussão, de ouriços de castanha, bambu, madeira e variados materiais recicláveis. A Oficina Som da Floresta é considerada um "ponto de cultura" pelo Ministério da Cultura.

As crianças da periferia formam um bom grupo de percussão e até já reinventaram, em ritmo de samba, as tristonhas interpretações oficiais do "hino de nação" que o Acre ama cantar.

A atividade das crianças é extra-curricular. Não são meninos ou meninas de rua, mas estavam nas ruas de seus bairros apenas jogando bola e soltando pipa. Aprendem agora sobre a diversidade musical, com ênfase na cultura acreana, especialmente nos sons da floresta.

Quem estiver interessado em convidar ou conhecer melhor a Oficina Som da Floresta deve telefonar para 68 3028 1005 ou clicar aqui para enviar mensagem para a Associação Vertente. A coordenadora do projeto é Célia Pedrina.

A Flora foi criada para promover a valorização da diversidade da floresta amazônica com a divulgação dos produtos florestais e agroflorestais, mostrando a viabilidade das alternativas sustentáveis para as populações tradicionais, além de chamar a atenção da opinião pública para a importância do trabalho agraoextrativista na conservação e desenvolvimento sustentável.

O tema da feira neste ano é "Floresta: Vida Nossa de Cada Dia". A floresta é o elemento fundamental da sustentabilidade do desenvolvimento socioeconômico, ambiental e cultural das populações locais.

Valores sociais, culturais, históricos e ambientais estão presentes nos trabalhos expostos. Grupos organizados de diferentes regiões do Acre e de outros Estados da Amazônia, entidades governamentais, e não-governamentais, incluindo os vizinhos Peru e Bolívia, estão presentes como parceiros do evento.

Há exposição de produtos variados, rodadas de negócios, seminário sobre a valoração ambiental da floresta, oficinas temáticas e práticas, e uma vasta programação cultural com artistas da terra. O site da Flora é desanimado e vazio quando comparado à agitação que acontece durante o evento. Clique aqui para conferir.

Voltarei à feira amanhã, para assistir shows de meus amigos conterrâneos Sérgio Souto e Pia Vila. Sérgio, entre outras belas canções, compôs "Lembrando de você", em parceria com Moacyr Luz.

Simão Pessoa, jornalista amazonense, autor do
"Manual do Canalha - Uma Estética Machista Para o Terceiro Milenio", sempre que nos encontramos, afirma:

- Eu não posso acreditar que um acreano seja um dos compositores de "Lembrando de você".

Bem, o Pia Vila é um dos inventores do mastigadinho, um ritmo acreano do qual não dá pra falar agora porque é bom demais e falta espaço. Por lá estarão, ainda, no sábado, os renomados compositores Sebastião Tapajós e Nilson Chaves.

Se fosse a feira agropecuária, seria Bruno e Marrone, Calcinha Preta, Calypso... Complete a lista.

3 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhosa anotação sobre a FLORA SONORA. Se faz com tão pouco, coisa tão bonita. Basta querer. Leio pela peimeira vez seu blog, numa indicação do não menos competente e defensor da natureza, Elson Martins. Parabéns. Agora sei aonde ler bons textos.

Anônimo disse...

Altino, venho sempre aqui, mas nunca comento. Aliás, desde que descobri teu blog, linkei no meu para os meus passeios na blogosfera. Mas queria comentar sobre a Feira dos Produtos da Floresta e o quanto o poder público na Amazônia, mesmo nos governos mais "avançados" ainda optam pelos grandes investimentos na fanfarronice brega das Feiras Agropecuárias. Chato, né?

Anônimo disse...

Bem, é que apesar da Célia ser a guru e batalhadora da vertente, temos que dar crédito também ao seus pupilos, todos alimentados a leite de búfala e com todo o carinho da mãezona Célia. Por isso, retifico que o coordenador do Som da Floresta é o Rodrigo Forneck, chamado carinhosamente por alguns de "Forneckinho", o que não sei se o agrada, mas como filho de peixe peixinho é...