sexta-feira, 28 de outubro de 2005

O ACRE É SEU


Poder interagir com velhos amigos e amealhar novas amizades se tornou mais prazeroso desde que esse modesto blog foi criado. Merecer a amizade e a inteligência da acreana Letícia Helena Mamed, 24, professora de teoria social na Universidade Estadual de Londrina, por exemplo, ficará na minha memória como uma das melhores lembranças desse diário virtual.

Pra começo de conversa, uma confissão: gostaria de ter o pensamento bem organizado e escrever com a mesma maestria dessa menina, que é fluente em português, inglês e francês, desenha e tem memória de elefante. Dia desses, durante encontro em São Paulo com outro acreano, o Mário Lima, professor de economia da PUC, ele não resistiu em querer saber:

- Quem é a Letícia Mamed, que de vez em quando participa de forma tão brilhante nos blogs do Acre?
- Durante a ECO-92, foi lançado um concurso nas escolas de primeiro grau de todo o Brasil. Era um concurso que selecionaria o melhor desenho de um aluno sobre a floresta e/ou a região amazônica. Ganhei em primeiro lugar. Ganhei prêmio em dinheiro, fui até a ECO e tive meu desenho publicado. Imagina, eu tinha uns 11 anos. Acho que o diferencial do desenho foi o fato de ter colocado o elemento humano e social. Quando se pensa em floresta, geralmente se pensa na flora e na fauna, mas se negligencia quem vive nela. Foi algo bem simples: cartolina e lápis de cor. Por isso acabei me interessando por história da arte. Então, eu leio tudo a respeito, conheço a metodologia, a técnica, as escolas. Mas não pinto. Podemos dizer que é um estudo teórico-metodológico - relata a professora.
Foi nessa época, com 11 ou 12 anos de idade, que Letícia Mamed procurou o jornalista Antonio Alves, então presidente da Fundação Municipal de Cultura, para entrevistá-lo como parte de um trabalho escolar sobre a doutrina do Santo Daime.

- Duvido até que o Toinho possa lembrar disso ainda, mas o modo inteligente e didático como tratou aquele grupo de crianças me cativou para sempre.

A primeira vez que li algo escrito por Letícia Mamed foi no blog O Espírito da Coisa, do Antonio Alves, onde ela apareceu e deixou nove comentários relativos ao PL das Florestas. O seu antigo entrevistado trouxe-os para a página principal e, logo abaixo, publicou suas respostas, não sem antes observar:

- O texto de Letícia Mamed, de evidente fundamentação marxista, me cutucou na alma. O marxismo é uma caixa fechada, de racionalidade extrema, sem contradições internas. É difícil dissecá-lo, analisá-lo, sem ser capturado pelo fascínio de sua lógica, de seu sistema de conceitos que se auto-sustentam, como uma doutrina religiosa. Em dado momento de minha vida, saí dele e, embora marcado por sua utopia socialista, a ele não mais retornei como sistema de pensamento. Ao longo do tempo, tornei-me cada vez mais rebelde e assistemático. Não posso, portanto, responder ao cutucão com outra lógica, pois não a tenho.

- Caro A. Alves, porque voltei a morar no Acre e, principalmente, porque o escolhi como meu objeto de estudo nos últimos anos, suas digressões sobre este lugar sempre me chamaram a atenção. Seu conhecimento empírico sobre nossa sociedade acreana tem me inspirado a pensar, a refletir sobre as devidas particularidades acreanas na sociedade global. Portanto, jamais pretendi expor ou impor uma determinada lógica de pensamento. Seria muito pretensioso tentar fazer isso, além do que não sou adepta a posturas dogmáticas. Minhas intenções se resumem a participar do debate e, quem sabe, contribuir para que ele avance. Se minha primeira intervenção já lhe cutucou profundamente e aos demais que leram meus comentários, penso que começamos bem nosso debate. Sigamos com ele - ela respondeu. Leia a resposta completa clicando aqui.

Letícia Mamed ganhou o título/prêmio de "láurea acadêmica" como melhor aluna do ano, concedido no dia da formatura. A média global no curso, incluindo trabalhos acadêmicos, publicações e tudo mais foi 9.7. Bem, na próxima semana, ela, que tem uma média de leitura de até 500 páginas por semana, terá em mãos os dois volumes de sua obra decorrente de anos de estudos.

- É uma publicação acadêmica, portanto, o título não é muito editorial, quem sabe eu possa alterá-lo depois da defesa do mestrado: "Amazônia Ocidental (1870-1970): o processo de incorporação do artesanato pela grande indústria na formação social do Acre".

Ela explica que o conceito de artesanato engloba todas as atividades de trabalho manual, como o corte-coleta e defumação do látex.

- A proposta inicial da minha pesquisa era dar conta do processo de modernização capitalista na Amazônia brasileira, tomando como caso empírico de análise o Acre. Assim, eu teria que dar conta de mais de 100 anos de história, desde o final do século XIX até hoje, 2005. Com minha pesquisa tive contato direto com a realidade social do Acre hoje. Não que não tivesse antes, mas agora o negócio se tornou conhecimento científico. Pra grande maioria, é simples me julgar como uma "pequena burguesa" (essa expressão é clássica sobre mim) brincando de trabalhar. Pode?

Dada a quantidade de material levantado e o tempo para que fizesse a publicação, Letícia revela que a tese de mestrado vai do final do século XIX até a década de 1970 e a tese de doutorado vai dar conta do período mais atual, até hoje, década de 2000.

- Fiz minha graduação na Universidade Estadual de Londrina, onde há um grupo de pesquisadores marxistas. Logo que me formei, entrei para a pós-graduação, que é um programa conveniado com o programa de pós da Unicamp, portanto, estou em Londrina concluindo meu mestrado. Caso continuasse aqui, logo em fevereiro de 2006 começaria o doutorado, mas lá na Unicamp mesmo.

Letícia Mamede volta para o Acre até o final do ano. Resolveu passar um tempo aqui porque está concorrendo a uma bolsa de estudos para doutorado na Sorbonne, França. Como o processo é longo, avalia que é melhor aguardar em casa.

Feliz aniversário, Letícia. O Acre é seu.

8 comentários:

Anônimo disse...

Ei, Letícia, eu lembro de uma entrevista com um grupo de meninas, muito atentas e compenetradas, mas ainda no escritório de transição, antes de assumir a Prefeitura de Rio Branco. Depois, não lembro... De todo modo, fico feliz em acompanhar sua viagem. Traga uma carteira de Gauloises pra mim, outra pro Altino. Abraço.

Anônimo disse...

Letícia, voce é dez e sei que vai consegui mais essa...
O Acre precisa de pessoas como voce.

Osmed da Silva Mamed

c.e.acre@uol.com.br
ce.acre@brturbo.com

Anônimo disse...

Letícia
Só quem a conhece sabe realmente o valor desta menina

Henrique (londrina-Pr)

Anônimo disse...

Ei estou bastante encantado com os cometarios sobre a Leticia Mamed , como estou curioso, será que é a minha linda professora de ciencias politicas na Uninorte,se for vou ficar mais orgulhoso de ser seu aprediz,isso me inobrese muito.

Anônimo disse...

É ela mesma. Você é um privilegiado.

Anônimo disse...

ontem falei com minha professora, perguntei para ela se realmente era ela,pois não deu para conhecer pela foto postada em cima,ela me respondeu que sim,vocês não imagina a minha alegreia de tela como minha professora,fico muito orgulhoso de ser seu aluno e viajar na história do passado,presente e futuro no interior das suas explicaçães,LETICIA MAMED,parabens por existir na nossa vida,eu me expiro muito no seu estilo de ser como educadora.

Anônimo disse...

Valeu Altino,desculpe a invasão,econtrei por acaso gostei muito do blog,parabens a Acre precisa muito de pessoa assim como você.Desejo comentar uotras vezes se vc permitir.

Anônimo disse...

Valeu Altino,desculpe a invasão,mais vc puxou-meu, quem manda vc comentar assim da Prof:Leticia,cada dia fico alegre com as suas aulas.
Altino parabens pelo belo blog que vc tem.O acre precisa muito de pessoas com a desenvoutura de pessoas assim como você.