sábado, 24 de setembro de 2005

FUMAÇA E FAZENDEIROS

Por Assuero Veronez

Tempos duros estes. De um lado sofrendo, como toda a sociedade, os efeitos danosos das queimadas em relação à saúde e qualidade de vida. De outro lado, os prejuízos vultosos das benfeitorias e plantações destruídas, gado emagrecendo e morrendo, noites em claro lutando contra o fogo tentando proteger as propriedades, desespero total daqueles que já perderam tudo. Futuro sombrio pela frente. Menos produtividade, maiores custos de recuperação, dívidas bancárias vencendo, etc. O quadro é dramático.

Mas, como miséria pouca é bobagem, ainda levamos peia como os responsáveis pela situação. Mais um prejuízo, agora político, de imagem, que vínhamos lutando para mudar.

A bem da verdade devo-1he dizer o seguinte: se existe o fogo, alguém o ateou. E esse alguém, na maioria das vezes, foi um produtor rural. A prática e a tradição da queimada do roçado ou da capoeira continua. As campanhas de educação ambiental têm sido tímidas e a introdução de tecnologias que substituem o fogo são ainda incipientes.

Exceção: os fazendeiros, assim entendidos aqueles de médio e grande porte, que têm acesso à informação, ao conhecimento e às tecnologias, que já aprenderam, há muito tempo, que o fogo é não só desnecessário como também prejudicial às pastagens. Portanto, fazendeiro não queima mais pastagens (ressalvo alguma exceção, porque sempre há algum energúmeno). Estamos sim sendo as maiores vítimas dessa situação e ainda levando "pau" da mídia. Assim é dose...

Para alongar um pouquinho a discussão, devemos lembrar da atipicidade do clima este ano (e aí as queimadas se tornam incêndios) e do fator fumaça dos últimos dias que sabidamente não é nossa (veja que até Cruzeiro do Sul está na mesma situação).

Não quero discutir aqui a questão do modelo de desenvolvimento tão criticado por você. Mas seria bom levantar esse debate em qualquer outra ocasião. Todavia discordo, juntando os mesmos argumentos "científicos", de que a seca deste ano decorre do desmatamento. Isso não é verdade. O argumento é simplista e desprovido de embasamento técnico. Qualquer trabalho nesse sentido é falsa ciência. Lembro apenas que o Acre tem 90% de florestas e a Amazônia tem 86%. Para comparar, a Mata Atlântica tem apenas 7% remanescente. E não me consta que o Sul/Sudeste tenha tido grandes secas por esse motivo.

Períodos secos no Acre têm sido descritos anteriormente. No livro de Genesco de Castro que descreve a história de Plácido de Castro há um trecho em que cita que o batalhão atravessou o Rio Acre a pé, com água pelos joelhos, face a seca daquele ano onde mal se podia navegar de canoa. Os mais antigos referem-se à grande seca de 1972, que teria sido mais severa que esta. Fenômenos climáticos são de causas e explicações bem mais complexas. Portanto é melhor não atribuirmos culpa a algo ou alguém sem um fundamento mais sólido. É, no mínimo, injusto.

Vamos torcer pra chover. Talvez mandar trazer aquele índio que por ocasião do incêndio de Roraima fez a dança da chuva e choveu.


Nota do blog: O pecuarista Assuero Veronez é presidente da Federação de Agricultura do Acre. A opinião dele foi dirigida ao jornalista Sílvio Martinelo e publicada hoje em sua Gazeta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pronto. Estamos, agora, todos informados o suficiente e podemos parar de falar besteiras. O fumaçal é resultado de três causas principais: a) falta de um corpo de bombeiro, para apoiar os "empresários rurais" no combate ao fogo é que permite a propagação do fogo; b) inexistência de programas de educação ambiental para educar melhor "alguns" igonorantes que ainda apelam para o fogo e não avançam na adoção de tecnologias de alta produtividade; c) a própria natureza que vive um ciclo de secas.

Então? Agora é por em ação suprindo essas carências e ponto final. Adeus fumaça.

E vamos parar de falar mal de quem jamais teve alguma coisa com isso.