domingo, 21 de agosto de 2005

VOZ ROUCA EM FAVOR DA MATA

Padre Paolino Baldassari

Faz muitos anos que grito em favor da mata, mas agora é quase o grito de quem está agonizando.

Começaram os grandes fazendeiros do Sul a derrubar quilômetros e quilômetros de mata e todos achavam que o progresso tinha chegado no Acre. Foi a vez que dei o primeiro grito para salvar os seringueiros expulsos das suas colocações. De tanto fazer, conseguimos descobrir uma lei do posseiro. Acalmaram um pouco as vendas de terra, porque encontraram uma reação positiva com os empates que começaram pela primeira vez no Icuriã e Guanabara, no Rio Iaco.

Acalmado um pouco o furor da destruição dos fazendeiros, chegou a onda dos madeireiros que derrubavam de modo violento as madeiras, destruindo as colocações dos seringueiros e forçando os seringueiros a sair. Aqui houve também uma reação quando eu entrei no centro do seringal Campo Osório e Baturité, convencendo os seringueiros a não deixar derrubar as árvores de aguano.

Esta tomada de posição abriu os olhos sobre os madeireiros que pediam licença para derrubar a madeira em cinqüenta hectares e derrubavam três mil hectares. Tinham a licença para derrubar 400 metros cúbicos e derrubavam de vinte a quarenta mil metros cúbicos como em Palmares, no Rio Iaco.

O alerta dado descobriu a infinita roubalheira de todas as madeireiras e houve também uma esperança de responder as derrubadas mas... chegou de verdade a ganância do gado, tendo caído o preço da borracha todos os grandes e pequenos começaram a derrubar apoiados por políticos. O Ibama aplicava multas e mais multas e estas multas se pagavam dando um tanto para a campanha de um candidato.

Lutei muito e alertei no fim foi o tal de manejo com o apoio do governo federal e estadual e assim a destruição continuou.

O Pe. Heitor Turrini tirou fotografias da destruição do Seringal Oriental,com a desculpa do manejo, mas a evidência da denúncia de Pe. Heitor Turrini fez que suspendessem a destruição do Seringal Macapá do Rio Purus. Assim mesmo, o desmatamento continua de modo selvagem.

Dois anos atrás tentei proibir uma grande derrubada na estrada de Manuel Urbano, mas tive que notar que, depois de dois anos, foram feitas grandes destruições e sem duvida com licença do Imac. Isto que me dói, porque o Imac é órgão do governo e por isso penso que o governo muitas vezes é traído pelas pessoas que se dizem amigas.

Chegando de Rio Branco vi o depósito de madeira que não tem limite... e a destruição continua de modo terrível.

Agora levanto a voz, para que não se desmate mais. A grande seca fruto da destruição nos chama a pensar seriamente.

Está na hora de dizer basta à destruição da mata. É o grito de socorro, antes de morrer no meio de um deserto sem água, sem vida. Um sertão triste que nos lembra o Ceará das grandes secas.

Faço um apelo a todas as autoridades, a todos os órgãos estaduais e federais.

Escrevo isto na GAZETA, porque foi na GAZETA que dei o primeiro grito de alarme.

O profeta Elias, compadecido pela fome provocada pela seca, pedia que ao menos uma nuvenzinha aparecesse no céu para ali-viar a sede e a fome do povo.

Vamos ser humanos, e que esta seca abra os olhos a uma realidade triste, provocada pela destruição das matas.

Tomara que não seja necessário cantar "Eu só deixo o meu Carirí no último pau de arara".

Tenho certeza que todos irão compreender este meu grito e se tomem providências sérias e se evite de uma vez o desastre.

Pe. Paolino M. Baldassarri
A voz rouca em favor da mata

P.S.: Caro Silvio Martinello,

Depois de anos de silêncio, na angústia desta seca, deste ar poluído, pensei enviar À GAZETA um GRITO de alerta sobre o que está acontecendo. Foi A GAZETA que colocou o meu artigo alertando sobre a destruição das madeiras.

O grito se espalhou em todo o Brasil e foram descobertas tantas derrubadas ilegais e que mexeram bastante naquele tempo, lá no 1994.

Agora caro Silvio, levanto novamente a voz pedindo que A GAZETA espalhe novamente o meu grito que é o grito de quem está morrendo, que é a floresta e com a floresta todos nós.

Silvio me ajude nesta missão.

Um agradecimento sincero e um grande abraço,

Pe. Paolino M. Baldassarri

3 comentários:

Anônimo disse...

Tenho lido poucas críticas contrárias quanto à exploração madeireira via "Plano de Manejo". Mas as palavras do Doutor Honoris Causa Pe. Paolino Baldassari, associadas à opinião do Dr. Aziz Nacib Ab'Saber, merecem ao menos uma reflexão quanto ao futuro da Floresta Amazônica. Alceu Ranzi alceuranzi@hotmail.com

Anônimo disse...

A preservação no Brasil parece ser algo que não interessa a quem está no poder - municipal, estadual e federal. Aqueles que ficam na linha de frente a exemplo do Pe. Paolino Baldassarri sempre são rotulados de denunciadores. Mas se denunciando já não dão atenção, imagine-se se não denunciar. Participo de um trabalho em prol da preservação do Vale dos Dinossauros/Pb e sei como é dificil de obter-se os resultados desejados. As autoridades constituídas são insensíveis.

Anônimo disse...

Depois que a jornalista Renata Teles de Paula da TV Senado falou-me de forma tão especial sobre o trabalho do Pe. Paolino Baldassari,procurei conhece-lo. De fato aquí neste portal pude comprovar o quanto é importante a dedicação desse preservador da floresta amazonica.Nós que buscamos a preservação deixamos de pensar em nós próprios e miramos as gerações futuras para que possam participar das riquezas naturais hoje sob ameaça de destruição. Luiz Carlos (Movimento de Preservação do Vale dos Dinossauros/Pb - lcdinos@yahoo.com.br