sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

FELIZ NATAL

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta e ousa sair pelas ruas a transpirar bom-humor.

Feliz Natal a todos que dançam embalados pelos próprios sonhos e nunca dizem sim às artimanhas do desejo. Aos que ignoram o alfabeto da vingança e jamais pisam na armadilha do desamor, pois sabem que o ódio destrói primeiro a quem odeia.

Feliz Natal a quem acorda, todas as manhãs, a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas quebrando convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e se recusam a ser reféns do pessimismo.

Feliz Natal aos que fazem do estrume adubo de seu canteiro de lírios. Também aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores e aos escritores sem palavras. E a todos que jamais encontraram a pessoa a quem declarar todo o amor que os fecunda em gravidez inefável.

Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia pronunciar palavras onde a mentira costura bocas e enjaula consciências. E a todos que, com o rosto lavado das maquiagens de Narciso, dobram os joelhos à dignidade dos carvoeiros.

Feliz Natal a todos que sabem voar sem exibir as asas e abrem caminhos com os próprios passos, inebriados pelos ecos de profundas nostalgias. E aos que decifram enigmas sem revelar inconfidências e, nus, abraçam epifanias sob cachoeiras de magnólias.

Feliz Natal também aos infelizes, aos tíbios e aos pusilânimes, aos que deixam a vida escorrer pelo ralo da mesquinhez e, no calor de seus apegos, vêem seus dias evaporar como o orvalho aquecido pelo alvorecer do verão. Queira Deus que renasçam com o Menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios. (Frei Beto)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

LÚCIO FLÁVIO PINTO

Ele cobre melhor a Amazônia

Carlos Tautz (*)

Lúcio Flávio Pinto é quem melhor cobre a Amazônia, aquela metade superior do mapa que a sociedade brasileira - e, nela, os jornalistas - enxergam de forma míope. Tratada por "hiléia" e "inferno verde" pela ditadura, com omissão pelos demais governos e, pela imprensa, de forma quase folclórica, a região e seus quase 20 milhões de habitantes vêm sendo vítimas de uma espécie de cegueira.

A imprensa, diz Lúcio, é "incapaz de ver, por trás da beleza cênica, a complexidade amazônica como parte de uma engrenagem internacional que a tomo como mote para um extenso circuito produtivo". E, assim, deixa de discutir qual o desenvolvimento adequado e necessário para a bacia hidrográfica que reúne nove países (o Brasil é só o que tem perto de 70% desse território), guarda quase 20% da água potável de superfície do planeta, tem a maior diversidade biológica da Terra e é encarada como a principal provedora dos recursos naturais do globo.

Só aqui no Brasil a Amazônia de que trata Lúcio inclui os Estados da Amazônia Clássica (Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e Amapá), mais Mato Grosso, Tocantins e quase metade do Maranhão. Foi, como ele recorda, uma região criada para receber os benefícios dos incentivos fiscais, a partir da ação da SPVEA, antecessora da Sudam, em 1953.

A seguir, vai a entrevista com Lúcio Flávio Pinto, o criador do Jornal Pessoal, escrito, impresso e distribuído por ele, e somente ele, que por vontade própria abandonou todos os grandes veículos nacionais e preferiu voltar a Belém para cobrir a Amazônia. Nesse ping pong, você encontrará reflexões sobre jornalismo, geopolítica e ética, essas coisas das quais às vezes se esquece.

Vamos qualificar o meu interlocutor: quantos anos de profissão você tem, quantos livros você escreveu e quantos prêmios Esso ganhou?

Tenho 39 anos de profissão. Escrevi 10 livros individuais sobre a Amazônia. Participei de vários outros livros coletivos, a maioria sobre a Amazônia e outros sobre jornalismo, inclusive de antologias de textos. Ganhei três Essos nacionais coletivos, com a equipe de Realidade e de O Estado de S. Paulo, uma menção honrosa nacional e um Prêmio Esso individual regional. Também ganhei dois Prêmio Fenaj, da Federação Nacional dos Jornalistas, em 1988. Um deles porque o Jornal Pessoal foi considerado o melhor jornal do Norte-Nordeste do país. Em 1997 ganhei um Colombe d'Oro per la Pace, em Roma, concedido pela Archivio Disarmo. Fui o primeiro não-europeu a receber a premiação.

Que avaliação você faz da cobertura da Amazônia feita pelos jornais da própria região?

Muito ruim. No dia a dia é melhor, evidentemente, do que os de fora porque cobre o cotidiano, registrando-o. Mas não vai além do velho conceito dos "faits-divers", sem uma visão de conjunto e contextualização. Nas coberturas especiais e sazonais perde muito porque se vale do material das agências jornalísticas nacionais, que costumam (já não com a mesma freqüência, porém) mandar enviados especiais à região. Além de investir pouco no material humano que têm e na cobertura da dinâmica humana, que se espraia pelo vasto interior amazônico, as empresas jornalísticas locais estão condicionadas por interesses paroquiais, vinculações políticas e atrelamento aos governos, ainda seus maiores anunciantes.

Você costuma dizer que a imprensa do sudeste é preconceituosa em relação à cobertura da amazônia. Por quê?

Antes, por exemplo, a grande imprensa não aceitava que se condicionasse os investimentos ditos produtivos (como a pecuária de corte) à ecologia porque floresta não dava rendimento. Agora, é incapaz de ver, por trás da beleza cênica, a complexidade amazônica como parte de uma engrenagem internacional que a tomo como mote para um extenso circuito produtivo. Por causa de sua "consciense mauvaise", o Sul Maravilha (para tomar uma entidade mitológica como símbolo) se recusa a tratar de problemas que só parecem ter sentido no
parque industrial paulista, como os que emperram a cadeia produtiva na Amazônia. Há 20 anos o Pará garante 15% das necessidades de alumínio primário do Japão a um custo inferior ao que os japoneses teriam se continuassem a fabricar o material no seu próprio território, graças ao brutal subsídio concedido à Albrás (controlada pela Companhia Vale do Rio Doce), durante as duas décadas anteriores, ao custo de 2 bilhões de dólares para o tesouro nacional. Lingote é a escala produtiva seguinte à da energia bruta. Como é impossível transmitir energia bruta por 20 mil quilômetros, pelo mar, seguia o lingote. E vai continuar a seguir, com a renovação do contrato de energia (3,4 bilhões de dólares) por mais 20 anos. Isso não aparece na grande imprensa, que só quer saber de biopirataria, reserva extrativista et caterva.

Quem cobre melhor a região: a imprensa brasileira ou a estrangeira?

Já tivemos excelente cobertura da Amazônia na grande imprensa brasileira, sobretudo em "O Estado de S. Paulo". Se você verificar a bibliografia sobre a região, no período do regime militar, constatará que quase todos os livros relevantes sobre essa fase fundamental da história brasileira citam fartamente material do "Estadão". Por quê? Porque havia uma excelente estrutura de informações funcionando na empresa. Em São Paulo havia um núcleo de pautas e de cobrança de matérias, que atuava tanto para o lado das sucursais e correspondentes, evitando matérias superficiais, inconsistentes ou mesmo viciadas, quanto para o lado dos editores, evitando que eles adotassem um viés do exotismo, próprio de quem não acompanha sistematicamente a realidade regional. O "Estadão", na segunda metade da década de 70, instalou uma sucursal em Belém e correspondentes em todas as capitais e mesmo em bases municipais, com efetivo poder decisório sobre as matérias. Essa estrutura exige dinheiro, algo que foi cortado dos programas das empresas jornalísticas atualmente. Mas não só isso. Requer compromisso com a causa. Sofrendo a censura do Estado, instalada dentro da redação, que provocou o receio traumático de algo como havia acontecido no Estado Novo, a direção do "Estadão" resolveu desafiar o regime que censurava o jornal. Mostrou que, a despeito dos cortes nas páginas do jornal, o "Estadão" continuava a saber mais do que Brasília, inclusive sobre a jóia da coroa castrense, que era a Amazônia, centrada no projeto de "integrar para não integrar", tão caro à geopolítica produzida pelo Conselho de Segurança Nacional. Isso tudo acabou. O que restou é perfumaria diante do que já tivemos. Ou seja: andamos para trás. Isso, no plano nacional. Internacionalmente, há momentos felizes de cobertura. Mas esse é perfume
barato. Logo evola. Mesmo na imprensa inglesa. A Amazônia tem fascínio, mas é distante. Ninguém, nos centros decisórios, nacionais e internacionais, a entende. Nem quer. Há, no inconsciente coletivo, a presunção de que a floresta vai acabar e logo a Amazônia se normalizará, ficando igual a todas as regiões desmatadas do planeta. Como sempre foi e será, na mentalidade do homo agricola, fazedor de desertos. Mal se percebe que a Amazônia é nossa última oportunidade de instaurar a civilização florestal, única na história da humanidade. Por amarga ironia, porém, somos o povo que mais desmatou em todos os tempos.

Qual é teu objeto de trabalho, na verdade: cobrir meio ambiente ou cobrir os modelos de desenvolvimento que se aplicam à região?

Eu entrevistava, na antiga sede da Fiesp, no viaduto Maria Paula, o engenheiro Eduardo Celestino Ribeiro. Ele era dono de uma grande empreiteira, a Cetenco, e de uma fazenda de gado no sul do Pará. Homem inteligente, bandeirante típico. Eu acompanhava com interesse seu raciocínio até ele chegar à Amazônia. Comecei a ficar alarmado: a Amazônia que ele queria criar não era a mesma Amazônia na qual eu havia nascido e pela qual me apaixonara, mais ainda quando me distanciei dela para tentar "vencer no Sul", o único caminho do sucesso no modelo concentrador colonial. Ele queria transformar floresta em pastagem e abrir estradas de penetração para todos os lados com o investimento ideal para "amansar a terra", a fazenda de gado. Naquele momento decidi que voltaria para minha terra e me comprometeria a informá-la sobre o avanço do colonizador. Queria fornecer-lhe informações em tempo real, que pudessem ser agendadas para uma plataforma de ação imediata, antes que as decisões baixassem de Nova York, Paris, Tóquio ou São Paulo, como caixas pretas. Tenho tentado isso até hoje. Faço esse trabalho por ter a esperança de que na Amazônia seja possível escrever uma história diferente do enredo traçado na Ásia e na África, nas áreas coloniais. É difícil fazer esse acompanhamento porque os "grandes projetos" partem do zero ao 80 rapidamente, como se fossem carros de Fórmula 1. Hoje, gastamos 400 milhões de dólares importando cobre. Amanhã, estaremos exportando US$ 3 bilhões. E ainda assim, o que é trágico, importando. Eu denunciei como pude, na época, o contrato de energia da Eletronorte com a Albrás, iniciado em 1984. Consegui pouco ou quase nada. Mas pensei: em 2004 será diferente. A sociedade estará bem informada e não deixar que se repitam as cláusulas leoninas em favor da empresa de alumínio. Pois bem: talvez o contrato atual seja ainda mais leonino do que o primeiro. A sociedade não se apercebe disso porque não se interessa efetivamente pelo essencial das questões amazônicas ou porque o poder de manipulação das empresas é formidável. Inclusive com a ajuda de jornalistas.

Falar da região significa automaticamente tratar de meio ambiente, qualquer que seja o tema abordado?

Na Amazônia, quase sempre. Sem isso, ninguém entenderá porque esse pedaço do Trópico Úmido é Amazônia e não África, Ásia, Cerrado ou qualquer outra designação. É Amazônia porque todo seu ciclo de vida, que é fechado, depende das árvores. Elas é que garantem a constante reciclagem, dos nutrientes à água. Há uma lição clara nesse sentido, que as pessoas não querem ver, nem os habitantes da Amazônia. Quando só a região produzia borracha para um mundo faminto desse produto, imaginava-se que a natureza havia conferido esse monopólio à Amazônia, terra nativa da hevea brasiliensis. No entanto, essa fantástica árvore só vive equilibradamente na heterogeneidade. Todas as vezes em que foi tentado adensá-la, para dar-lhe caráter econômico, ela foi atacada pelo mal das folhas. Até hoje, os seringais de cultivo existentes na Amazônia não vingaram. Os seringais nativos, que ainda existem, não são competitivos. Metade da produção recorde de borracha, no ano passado (por valor absoluto, sem atualização), foi obtida em São Paulo. A natureza presenteou a Amazônia com a seringueira, mas condicionou o presente à dispersão da árvore numa mata com 100 outras espécies por cada hectare. Por que essa heterogeneidade? Ela tem seu lado ruim, vista pela perspectiva de heveicultura, mas tem seu lado bom pela riqueza biológica, pelo acervo genético que contém. E mesmo panorâmico: ainda que não desse o látex, a seringueira, sem sua companhia natural, é apenas um gigante frágil. Isolada, qualquer pé de vento mais forte a derruba. A complexidade desse equilíbrio é o que distingue a Amazônia e a complica no panorama dos Trópicos Úmidos, mas é também sua essência de riqueza, de originalidade, de especificidade. Poucos têm paciência para entender isso. Por conseqüência, poucos
compreendem o que é a Amazônia.

O que significa o fato de agora você receber da Justiça um tratamento mais duro do que durante a ditadura? Que agora a cobertura de meio ambiente toca mais no capital do que tocava há 30 anos? Significa que agora, falando mais a fundo dos projetos de desenvolvimento, você vai mais ao coração do capitalismo, e que isso ameaça mais do que criticar, como antes, o governo?

Um pouco isso, mas a coisa é muito mais complexa. Os militares que impuseram a marca do Projeto Amazônia em geral acreditavam no que estavam fazendo. Havia corrupção, havia desvios, havia favorecimentos, mas o núcleo doutrinário do "modelo amazônico" achava que estava fazendo o melhor para "integrar" a Amazônia, assim evitando que ela fosse "entregue" aos estrangeiros. O resultado acabou sendo o contrário, mas esses ideólogos do desenvolvimentismo amazônico acreditavam na consistência de sua política. Por isso, e porque a Amazônia era (e é) secundária no projeto nacional, marginal e residual, apesar do seu tamanho e da retórica que lhe diz respeito, admitiam uma margem de crítica muito maior do que a outros pontos mais nervosos, mais sensíveis do modelo nacional. Pareciam admitir que a crítica do que se fazia na Amazônia não atingia o coração do regime. Além disso, por ser fronteira, a Amazônia era uma terra de incógnitas. Quem sabe, o crítico não estaria certo? Quem sabe, não estaria apontando uma situação ignorada pelos donos da doutrina de segurança nacional aplicada à Amazônia? Dou um exemplo. Fiz uma pauta sobre grilagem de terras na Amazônia, a ser
cumprida por mim e pela rede de sucursais e correspondentes de "O Estado de S. Paulo". Essa pauta, que era extensa, com 10 laudas, foi parar no Conselho de Segurança, isso em 1977. O secretário-geral do CSN entrou em contato com o doutor Júlio Mesquita Neto e pediu que eu fosse a uma reunião com os integrantes da Câmara de Terras do Conselho. Era a primeira vez que um jornalista era convidado (não sabíamos então se com aspas ou não) para defrontar-se com um dos setores estratégicos do CSN. Fui bem recebido, debati com militares e assessores com franqueza, divergimos e discutimos, mas saí ileso e bem impressionado com o nível do diálogo. E eles perceberam que eu conhecia profundamente o assunto pautado, inclusive uma lei sobre discriminatória de terras públicas que eles haviam acabado de fazer aprovar no Congresso. As matérias saíram, incomodaram muito, sobretudo os grandes donos de fazendas na Amazônia, que eram paulistas, mas ganhamos a menção honrosa nacional do Prêmio Esso naquele ano.

Por que você recusou integrar o Grupo de Assessoramento Internacional sobre florestas, que faz o monitoramento das políticas públicas federais na Amazônia?

O convite foi muito honroso, o grupo de assessoria é importante para definir e acompanhar as políticas públicas voltadas para a Amazônia, acho que eu lhe daria contribuição útil e aprenderia bastante na convivência com as pessoas tão qualificadas que o integram, mas vi incompatibilidade ética entre fazer parte do grupo e manter o Jornal Pessoal, que tem pago com sangue e sofrimento por sua radical independência e autonomia. Talvez seja excesso de pudor e ética, mas as perseguições que tenho sofrido nos últimos 12 anos me obrigam a ser como a mulher de César: não apenas ser independente e honesto, mas parecê-lo também. Lamentei muito ter que tomar essa atitude, depois de muito pensar e recalcitrar, porque significou uma perda muito grande para mim. Mas achei que, para aceitar o convite, teria que parar o Jornal Pessoal. O que gostaria de fazer, até, mas não posso. Esse minúsculo jornal se tornou um símbolo de resistência e uma tribuna, que ressoa a voz da Amazônia, sufocada ou ignorada. É fugaz como o perfume que fica no ar, mas tem essa força esvoaçante que lhe deu o grande compositor maranhense João do Vale: "A minha voz o vento pode levar, mas o meu perfume fica morando no ar".

(*) Jornalista

Fonte: Comunique-se

Nota do blogueiro: Carlos Tautz esqueceu de citar o Acre como um dos Estados que compõem a suposta Amazônia Clássica. Além disso, o slogan da ditadura militar na Amazônia era "integrar para não entregar" e não "integrar para não integrar", conforme foi atribuído ao entrevistado numa das respostas.

AUTO-CENSURA

Havia começado a redigir essas mal traçadas linhas indagando-me se era má fé ou ingenuidade da direção ou editoria do jornal Gazeta suprimir pelo segundo dia consecutivo notas críticas da coluna do jornalista Cláudio Humberto contra o governador Jorge Viana.

A Gazeta, que publica a coluna com exclusividade, retirou da edição de ontem a nota “Cai a máscara”. Nela, Cláudio Humberto afirmava: “O Sindicato dos Jornalistas do Acre desfez a cara e a pose de bom moço do governador Jorge Viana (PT). Acusa-o de manter um esquema de censura a notícias que o desagradem e de demissão de jornalistas que não controla”.

Certamente a fonte de Cláudio Humberto no Acre o avisou de que a coluna fora censurada pelo governo e não pela editoria no esforço de agradá-lo a qualquer custo. O jornalista então redigiu para a coluna de hoje a nota “Como na ditadura”. Gazeta mordeu a isca censurando-o novamente.

“Além de vetar propaganda oficial nos jornais que o desagradem, impondo-lhes censura prévia, o governador petista Jorge Viana há seis anos proíbe a rádio Difusora Acreana, do governo, de entrevistar políticos de oposição”, afirma a nota da coluna, que é distribuída para jornais do país inteiro.

Telefonei para o jornalista Sílvio Martinello, diretor do jornal, que explicou não ter acompanhado a decisão da editoria.

Ele disse que nos últimos anos se dedicou a escrever dois livros porque está cada dia mais complicado fazer jornalismo no Acre. “O Paulo Francis dizia que antes de exigir liberdade de imprensa o jornalista deve conferir o caixa da empresa para a qual trabalha”.

Sílvio Martinello, ex-correspondente do Jornal do Brasil no Acre, se tornou sócio da família do ex-governador e ex-senador Flaviano Melo no jornal. Gazeta exerceu uma crítica insana contra o primeiro mandato do governador Jorge Viana.

Jornalista e governador chegaram a romper o diálogo e a amizade, mas se reaproximaram e o jornal passou a dispensar outro tratamento ao governo.

Segundo o diretor da Gazeta, o jornal era patrocinado pelo atual prefeito Isnard Leite, mas, em razão da aproximação com o governo, perdeu o patrocínio ao tentar fazer uma cobertura equilibrada da política.

“Não é fácil manter o equilíbrio na corda bamba da política. Isso só vai mudar quando circular mais din-din do capital privado no Acre”, disse Martinello.

Conversei ainda com o jornalista Elson Martins, ex-sócio de Martinello na fundação do Varadouro e da Gazeta, para quem os patrocinadores de jornais no Acre, especialmente o poder público, deveriam deixar fluir o papel da imprensa sem sobrosso. “O governo precisa confiar mais no povo”.

A auto-censura da editoria da Gazeta agrava a polêmica sobre o suposto cerceamento da liberdade de imprensa no Acre. As notas censuradas de Cláudio Humberto, que não teriam maior impacto no Acre, já estão sendo usadas para reforçar os argumentos dos jornalistas que ficaram órfãos com a derrota de Márcio Bittar para a prefeitura de Rio Branco.

Esse debate se alastra e dele tenho participado em vários ambientes, sobretudo na internet, onde a maioria prefere se ocultar no anonimato. Quem quiser conferir muitas opiniões controversas deve visitar os blogs do jornalista Antonio Alves, do deputado Moisés Diniz, além dos anônimos Imprensa Livre e Caverna da Lua de Saturno.

Penso que permaneceremos atrelados ao cativeiro dos coronéis do barracão da política enquanto a sociedade tiver que se preocupar se o que necessita ser feito agrada ou não a Plácido de Castro, Nabor Júnior, Flaviano Melo, Edmundo Pinto, Romildo Magalhães, Orleir Cameli, Jorge Viana...

A auto-censura dessa vez foi um tiro no pé do governo.

PALPITE SEM FONTE

Pode ser um palpite infeliz, mas vamos lá: existem sinais de que vai mudar a comunicação da Frente Popular do Acre, a aliança de partidos políticos que dá sustentação ao governador Jorge Viana e ao prefeito eleito de Rio Branco Raimundo Angelim, ambos do PT.

É provável que o secretário de Comunicação do governo, Aníbal Diniz, seja substituído pelo publicitário Gilberto Braga, da produtora Companhia de Selva, para comandar a Assessoria de Comunicação da prefeitura.

Um evidência bastante sutil: Diniz, que não costuma tirar férias em final de ano, passou os últimos 10 dias em Fortaleza.

Um pretendente ao cargo de Assessor de Comunicação foi rifado durante a semana por ter sido inábil ao se movimentar, sem apoio do partido dele, em busca da salvaguarda de deputados e vereadores dos demais partidos da aliança.

Pra finalizar: pode ser que “gente de bem” (bordão do senador Tião Viana), como o ex-deputado Marcos Afonso, que está na cidade, também passe a ocupar algum cargo no estado ou no município.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

CHICO VIVE!


No dia 15 de dezembro de 1944 nasceu num seringal de Xapuri, no Acre, uma criança que teve o nome conhecido e reconhecido em todo o planeta Terra 40 anos depois.

Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, teria completado nesse final de 2004 a sua melhor idade...

No dia 22 de dezembro de 1988 apagaram os olhos dele, antes que pudesse ver e festejar os bons resultado da luta que liderou.

Antes de ir, porém, Chico Mendes escreveu uma bela mensagem aos jovens do presente e do futuro.

Chico Mendes vive!

Estava vivo ontem no teatro Hélio Melo, durante o lançamento do livro Artigos em geral, do jornalista Antonio Alves.

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

PRÊMIO CHICO MENDES


O índio Joaquim Tashka Yawanawá, vencedor do Prêmio Chico Mendes de Florestania, promovido pelo Governo do Acre, foi indicado durante a semana para concorrer ao cobiçado prêmio internacional concedido aos líderes do novo milênio pela rede de TV CNN e pela revista Time. Os yawanawá -yawa (queixada), nawa (gente)- se declaram o povo da queixada. Eles fazem parte da família linguística do tronco pano.

A solenidade da premiação acreana estava prevista para acontecer no Palácio Rio Branco na quarta-feira 21, mas foi adiada para o dia 24 por causa de compromissos que impediriam a presença da ministra Marina Silva.

O prêmio foi instituído em setembro com o objetivo de reconhecer e estimular atividades, programas, ações e iniciativas que têm como objetivo consolidar o conceito de florestania.

Os vencedores do Prêmio Chico Mendes de Florestania receberão certificado de reconhecimento assinado pelo governador Jorge Viana, com as honras do Estado, acompanhado de um troféu. Será acrescido ao certificado e ao troféu de Joaquim Tashka Yawanawá uma premiação no valor de 10 mil reais.

Taska, Laura Soreano e o canadense Josh Sage dirigiram nesse ano o documentário Yawa – A história do povo yawanawá, que retrata o festival que acontece durante sete dias, na aldeia Nova Esperança, na terra indígena do rio Gregório, no Acre.

O filme de 50 minutos registra a história do povo yawnawá, seus mitos, cerimônias sagradas, músicas, danças, comidas bebidas e brincadeiras que expressam sua relação harmônica com a floresta.

O filme, que teve lançamento nacional e internacional, foi financiado pela empresa Aveda Corporation, que compra a produção de urucum da tribo, e pelo ator americano Joaquim Phoenix, amigo de Tashka.

Joaquim Tashka saiu da aldeia para estudar em Rio Branco no final dos anos 80, morou alguns anos nos Estados Unidos e no México, onde conheceu e casou com a índia e jornalista Laura Soreano, de origem mexicana. O casal tem buscado a solidariedade internacional para executar projetos de desenvolvimento social e econômico da tribo yawnawá, inclusive no mundo da moda.

O prêmio Chico Mendes de Florestania objetiva valorizar a memória do líder seringueiro e ambientalista assassinado em 22 de dezembro de 1988, que colocou sua vida, ideais e luta em defesa dos direitos dos povos amazônicos, servindo de inspiração e guia às populações tradicionais da região em sua organização e produtividade.

domingo, 19 de dezembro de 2004

LANÇAMENTO


O jornalista Antonio Alves passou em minha home-office para pagar com o livro “Artigos em Geral” os 20 paus que havia tomado emprestado na semana passada. “Mais uma batalha vencida – e foram tantas! Melhor: muitas ainda virão”, afirma na mensagem de autógrafo.

Os defeitos do livro mais esperado do ano no mercado editorial acreano ficam por conta da gráfica de Brasília onde foi impresso: cortes mal ajambrados nas margens e numa capa muito mole, além da ausência de uma ficha catalográfica que será pespegada pelo autor com carimbo. Os defeitos param aqui.

Artigos em Geral é uma coletânea de 19 bons textos escritos depois de 1990. Alguns foram publicados em revistas ou jornais do Acre. Outros são inéditos e ficaram, por vários anos, acessíveis a poucas pessoas ligadas às organizações políticas ou sócio-ambientais.

Cobrem uma grande variedade de assuntos, mas todos se inserem, de alguma forma, num amplo debate sobre o ambiente e a cultura da Amazônia e sobre a singular contribuição dada pelo estado do Acre. É o livro três da coleção Arqueologia do Recente, que reúne crônicas, artigos, reportagens, entrevistas, palestras e até poesia do jornalista em cinco livros.

“A década de 80 terminou com um tiro, na noite de 22 de dezembro de 1988. Depois da morte de Chico Mendes, tudo mudou de tal forma que até o tempo deu a impressão de estar passando mais rápido”, afirma Toinho na apresentação.

Toinho, que selecionou os textos pela importância como registro histórico ou para que deles “pudesse reivindicar uma certa autoria”, assina o artigo A República do Acre, claro, com Jorge Viana. É mais um motivo para comprar o livro e conferir o quanto o governador escreve bem.

Como fez em cada artigo, Toinho explica em nota que o longo artigo foi publicado em agosto de 1991 na revista Teoria & Debate. Nas eleições de 1990, o PT havia chegado ao segundo turno apenas no Amapá e no Acre, atraindo a atenção da direção nacional do partido para o estado e seu candidato, Jorge Viana.

“Viramos uma noite escrevendo, na sede do Centro dos Trabalhadores da Amazônia. A editoria da revista “enxugou” o texto, que havia ficado muito longo. Não houve prejuízo no conteúdo, mas o original, que infelizmente perdeu-se, tinha um tom mais coloquial nos parágrafos iniciais”, afirma.

Acho os artigos políticos, que estão no começo do livro, os mais interessantes. Embora sejam muito reveladores, o autor pede paciência ao leitor menos interessado no tema até saltar no miolo cultural e ambiental dos demais.

O melhor deles é "A Defesa Siciliana", escrito há 10 anos, que expõe o quanto o PT no Acre não quis assimilar ou exagerou no aprendizado de algumas lições na floresta.

"A Defesa Siciliana é uma das mais usadas no xadrez moderno. Está baseada no conceito de "defesa ativa", aquela em que não ficamos fixos em nossas posições, mas buscamos o máximo de mobilidade e exploramos qualquer chance de contra-ataque. Gostaria de ter tempo para estudá-la mais nos próximos quatro anos porque é uma das que jogo pior", confessa o enxadrista.

Vou esperar a gentileza do Toinho em trazer o livro um, “O Espírito do Coisa”, com crônicas de feição mais literária. Também de crônicas, mas dedicadas ao debate político, ambiental e cultural, o livro “A Coisa em Si”, e as entrevistas e palestras em “A Florestania Falada”, além da poesia em “Atempo”.

Toinho fará uma palestra de apresentação durante o lançamento de “Artigos em geral” na terça-feira 21, às 18h30, no Teatro Hélio Melo, Memorial dos Autonomistas, como parte da programação da Semana Chico Mendes.

P.S.: Ah! Antes que eu esqueça: clique em
"A República do Acre" para ler o artigo assinado por Jorge Viana e Antonio Alves.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

POLÊMICA NA IMPRENSA

Prêmio Esso exclusivo: vencedor diz que vai renunciar

Por Renata Toledo Piza

O jornalista Renan Antunes de Oliveira, que ganhou no último dia 14 o Prêmio Esso de melhor reportagem do ano disse, em primeira mão à IMPRENSA, que vai devolver o diploma na próxima segunda-feira (20).

Na noite da última terça-feira, jornalistas de todo o país estiveram reunidos no hotel Sofitel Rio Palace para a cerimônia de entrega do almejado Prêmio Esso. Em meio a grandes jornais como O Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e revistas do calibre de Veja e Época, estava um pequeno jornal de Porto Alegre, o Já, que concorria na categoria de melhor matéria da região Sul com a reportagem "A tragédia de Felipe Klein", do jornalista Renan Antunes de Oliveira.

Em dado momento foram anunciados os três finalistas na categoria "melhor reportagem": os jornais O Globo e O Dia (RJ) e a revista Época. O veredicto foi recebido pelos presentes com surpresa: "Por decisão soberana da comissão julgadora, o prêmio de melhor reportagem vai para o jornal Já, de Porto Alegre". Isso mesmo, aquele "jornalzinho" que concorria na categoria Regional Sul. Ironia do destino, antes de publicar sua reportagem no jornal Já, Oliveira a ofereceu à revista Época, que respondeu com uma negativa. Na noite de gala, Época viu o Prêmio Esso escorrer pelas mãos.

Em meio a vaias dos mais de 600 convidados, o vencedor foi até o palco, aguardou que os colegas indignados se calassem e começou os agradecimentos com a frase "recebo as vaias com humildade", seguida de um breve relato de sua carreira de 30 anos como repórter (ele já passou por grandes redações como as de IstoÉ, Zero Hora, Veja e O Estado de S. Paulo, na qual trabalhou por sete anos e foi correspondente internacional).

No dia seguinte, de volta a Porto Alegre, Oliveira foi surpreendido ao ler nos jornais declarações de diretores de redação dos veículos da grande imprensa, que colocavam em xeque a transparência e fidedignidade dos critérios de avaliação usados pelo júri do prêmio. "Vou mandar uma carta na segunda-feira (20) com os dizeres renuncio ao Prêmio Esso", afirma o jornalista. Para ele, jornais e revistas estão usando a desculpa do critério duvidoso quando, na verdade, não aceitam perder a premiação para um pequeno jornal mensal gaúcho pouco - ou nada - conhecido no País. "São essas atitudes que diferenciam homens de ratos", dispara.

Oliveira, cuja vasta carreira não reflete vultosa conta bancária - realidade compartilhada por grande parte da categoria - diz que devolve o diploma, mas não o dinheiro (R$ 10 mil). "Eu mereço", diz, entre risadas e brados de indignação. Segundo ele, ou a Esso escolhe um novo júri e anula a premiação do dia 14, ou o prêmio "não vale nada". "Quando devolvo o diploma, estou dizendo apaguem o meu nome dos registros, porque não quero fazer parte da história do prêmio Esso logo no ano em que sua credibilidade é questionada pelos grandes veículos do Brasil", finaliza.

Depois da repercussão, vencedor do Esso muda de idéia e se diz indeciso

O vencedor da categoria "reportagem do ano" do prêmio Esso, Renan Antunes de Oliveira, em e-mail à redação da revista IMPRENSA, afirmou não estar certo da devolução do diploma aos organizadores do evento. "Comuniquei ao pessoal do Esso minha INTENÇÃO de devolver o DIPLOMA e ter meu nome FORA DOS ANAIS". E completa. "A decisão final AINDA não foi tomada, as of today, 2.16 pm". Na tarde de ontem, Renan afirmou, com exclusividade à IMPRENSA: "On the Record. Na segunda-feira, vou mandar de volta o diploma para os organizadores do prêmio". O jornalista solicitou, ainda, pequenos reparos na matéria publicada no site da revista IMPRENSA. "Nunca trabalhei no Zero Hora, mas sim na RBS (dona do Zero)", disse.

Fonte: Portal da Imprensa



ABAIXO A HIPOCRISIA!

A Carta Aberta dos Jornalistas do Acre é um típico nariz-de-cera (introdução repleta de rodeios e adjetivos) e está eivada de erros de redação e estilo.

Chega a ser injusta para com alguns donos de veículos de comunicação e leviana ao insinuar que exercemos a profissão com alguma responsabilidade.

Perde contundência ao afirmar genericamente que "instituições e pessoas que lutaram por uma imprensa livre no Acre, agora adotam os mesmos expedientes de outrora". Ora, se ainda continuam nessa luta está tudo lindo e maravilhoso.

Peca pela imprecisão. Por que não nomeia quem supostamente censura em nome das instituições? Por que não cita se as tais instituições pertencem ao Executivo, Legislativo, Judiciário ou organização social?

Se for o governo por que os jornalistas buscam apoio dele e acabam de celebrar com o mesmo uma premiação furreca de reportagem?

A carta chega a ser bisonha e deixa a impressão de que não foi redigida por jornalistas, embora esteja assinada pelo sindicato da categoria.

A inflexão dela é despropositada. Tivesse alguma contundência, certamente seria capaz de repercutir nos fóruns adequados onde se luta contra o cerceamento da liberdade de expressão, dentro e fora do país.

O que vai acontecer é que alguns colegas de visão estreita vão ficar de mal por causa da minha opinião sincera, outros até podem apelar pra baixaria, mas em verdade vos digo que tudo vai acabar em pizza.

A carta parece notinha de fofoca política, algo tão típico do jornalismo acreano. A gente lê e se exaspera tentando decifrar enigmas. Não vai repercutir porque está desprovida da precisão que poderia lhe conferir credibilidade.

Queria saber por que os jornalistas foram tão frouxos e não tiveram coragem de ler de viva voz a cartinha, na presença do governador Jorge Viana, de quem receberam vários prêmios na semana passada?

Por que não leram também para o desembargador Ciro Facundo, presidente do Tribunal de Justiça, com quem estiveram na semana anterior num seminário para debater a relação imprensa/judiciário?

Por que não explicam isso? Recuaram da leitura em duas boas oportunidades e depois distribuíram de modo sub-reptício a carta como se isso fosse atitude de coragem?

Vai ser difícil para quem gosta e se acostumou a bajular levantar a cabeça agora.

Viva a liberdade de expressão! Abaixo a hipocrisia!

terça-feira, 14 de dezembro de 2004

TRANSPARÊNCIA

De passagem pelo site do Governo do Acre, encontrei na seção de notícias uma indicação para conferir “os repasses federais do seu município” no Portal da Transparência, que permite conhecer também os repasses feitos aos governos estaduais.

Qualquer cidadão que disponha de um computador com acesso à Internet, em qualquer recanto do Brasil, poder acompanhar a execução dos programas e ações do Governo Federal, passando a ser um fiscal da correta aplicação dos recursos públicos, sobretudo no que diz respeito às ações destinadas à sua comunidade.

Dá pra saber que no exercício de 2004 foram repassados ao Acre R$ 666,3 milhões, sendo que desse total R$ 523,7 milhões foram destinados ao Governo Estadual e R$ 142,6 milhões aos municípios.

O ex-governador do Amapá, o atual senador João Alberto Capiberibe, implantou o programa Gestão do Dinheiro Público, onde qualquer pessoa pode conferir na Internet detalhes dos gastos públicos, saldo bancário do tesouro estadual, arrecadação dos tributos, repasse do FPE, repasse aos poderes, repasse aos municípios e cotas financeiras.

Por aqui, não se vê nenhuma iniciativa nesse sentido por parte do governo, da oposição ou de sua base de sustentação na Assembléia Legislativa.

O certo é que boa parte da ladroagem promovida pelos bandos que eram liderados pelos ex-governadores Romildo Magalhães e Orleir Cameli, entre outros, teria sido contida se houvesse transparência semelhante.

Certa vez perguntei ao governador Jorge Viana se pretendia fazer no Acre o que Capiberibe fez no Amapá. Ele franziu o cenho e respondeu de modo lacônico: “Não é bem assim. Aquilo não é de todo transparente”.

Vamos torcer para que Jorge Viana ou seus aliados se mirem no exemplo do Governo Federal para implantar nesse fim de mundo uma ferramenta moderna e transparente de controle social dos gastos públicos.

Alguém duvida que Romildo Magalhães ou Orleir Cameli não possam voltar a botar a mão no cofre?

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

FIGURAÇÃO


O desenhista e pintor acreano Fernando França volta a fazer sucesso no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará com a exposição Figuração.

Fernando, que também é mestre em literatura brasileira, já participou de vários salões e mostras coletivas, dentro e fora do país. Cresceu livre e vadio com sua baladeira em Rio Branco.

Lia muito gibi, copiava tudo exaustivamente, tentou ser músico, pichou muro e levou muita carreira ao ser flagrado furtando frutas nos quintais da vizinhança, especialmente no bairro da Floresta.

Ele diz:

- Caro Altino, tenho lido o seu boga, ops! o seu blog. Não tenho mandado notícias porque ando meio ocupado com a nova exposição. Ela vai permanecer até o dia 29 de dezembro e pode ser vista na internet. Onde é que anda aquele baitola do Branco Medeiros, que nunca mais me deu notícias?

Fernando e Branco são dois desenhistas excepcionais que escaparam do Acre. Temos em comum um amigo que deu certo na vida por ser metódico e meticuloso: o vice-governador Arnóbio Marques.

O Arnobinho, que é secretário estadual de educação, bem que poderia viabilizar a vinda desses dois artistas para que participem de oficinas com os novos talentos que ainda permanecem aqui.

A grande sacanagem da exposição é uma certa Angela Gutiérrez fazer referência à “impactante monumentalidade das telas do jovem artista cearense”.

Nem acreano nem cearense. Fernandão é cidadão do mundo. Para ver a exposição clique em Figuração.
E quem quiser saber do Branco clique em Pervercidades.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

IMPRENSA "SIPÓ"

O sujeito que se declara jornalista e escreve “sipó” em vez de cipó merece a pena de morte. É o caso de quem redigiu a seguinte manchete no site do semanário O Estado: “Apreendido grande carregamento de sipó de Daime pela Polícia Rodoviária”.

Mais adiante, em curtíssimo editorial, o site presta um desserviço ao afirmar que a imprensa do Acre não sabia da visita do presidente Lula a Rio Branco.

“O primeiro canal de notícia do Acre a dar conhecimento da visita inesperada do presidente Lula ao Acre nesta manhã foi este jornal. Nenhum jornal diário da capital sabia da visita do presidente, que chegou de Cuzco, Peru, hoje de manhã, e, em companhia do governador Jorge Viana, visitou as obras da terceira ponte, sobre o Rio Acre”, destaca.

Não é verdade. A coluna Plenário, da Gazeta, e Bom Dia, da Tribuna, anunciaram a visita em suas edições on-line ainda na noite de ontem. Até esse blogueiro sabia e registrou a visita em nota publicada mais abaixo, antes dos dois jornais.

O único jornal que não noticiou a visita de Lula foi o Página 20. “Escrevi uma nota, mas fui censurado porque o jornal recebeu ordem superior para não mencionar nada a respeito da visita presidencial”, afirmou o jornalista Leo Rosas, da coluna Poronga.

Fica provado que a equipe do Estado comeu mosca porque foi a única a não saber que o presidente Lula faria mais uma visita ao Acre para dar carona ao amigo Jorge Viana.

Desse jeito, o diretor do site, João Roberto Braña, atrapalha o sonho de se tornar assessor de comunicação do prefeito eleito Raimundo Angelim com as bênçãos do PC do B.

A "imprensa 'sipó'" precisa tomar a vacina do sapo.

P.S.: Estado corrigiu o "sipó" às 16h13

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

LULA AQUI

Ninguém se espante amanhã caso encontre o presidente Lula outra vez no Acre. Depois de ter assinado nesta quarta-feira, em Cuzco, um acordo com o governo do Peru que garante a construção da rodovia Transoceânica, o avião presidencial deverá cumprir escala no aeroporto de Rio Branco, por volta das 8 horas, para o desembarque do governador Jorge Viana, que faz parte da comitiva.

A Transoceânica ligará a cidade peruana de Inapari, na fronteira com o Acre, aos portos peruanos Ilo e Matarani, no Pacífico. A rodovia, prevista para ser construída em dois anos, vai custar US$ 700 milhões.

Jorge Viana disse que a licitação para as obras da rodovia deve ser aberta em 2005. Lula afirmou que o Brasil vai fazer "todo o esforço que estiver ao seu alcance para que a tão sonhada integração do continente sul-americano se concretize definitivamente nos próximos anos."

Segundo o presidente, o Brasil sabe da importância de sua participação política para promover essa integração. "Essa integração supera rivalidade e desconfiança passadas. Vamos trabalhar em favor de uma América do Sul mais próspera, mais justa e mais eficiente."

terça-feira, 7 de dezembro de 2004

MICO SEM FRONTEIRA


Jornalista Leonildo Rosas, colunista do Página 20, assina na edição de hoje a notinha "Sinalização", na qual rasga farto elogio à placa que o governo estadual afixou em Cobija, cidade boliviana, capital do departamento de Pando, na fronteira com o Brasil.

Diz a nota: “O Acre é enjoado. Dentro da cidade boliviana de Cobija a sinalização de trânsito para quem se dirige à ponte Wilson Pinheiro foi executada pelo governo do Acre. Na placa estão os símbolos dos governos do Brasil, da Floresta e do Detran. Isso é integração”.

Atento, o leitor e estudante de jornalismo Hermington Franco observa:

- É verdade que o Acre e os acreanos são mesmo enjoados. Enjoados a ponto de mandarem colocar, dentro da Bolívia, uma placa escrita em portunhol clássico. Em espanhol a frase correta seria: "Prohibida la circulación de camiones y autobuses".

Bem, será que o Léo publicou a foto e evitou apontar o erro para não desagradar ao governo? Ou publicou-a para que os leitores percebessem o erro e se encarregassem da crítica? O que não vai faltar é gente achando que engoliu mosca.

Por sua vez, o jornal A Tribuna abre a principal coluna de política com o seguinte impropério: "Matéria, vinculada na edição de domingo...".

Perdão pelo trocadilho torpe, mas, desse jeito, jornal deixa de veicular porque anunciantes e leitores se desvinculam.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2004

REPÓRTER BODADO

Altino,

Você viu a "porrada" do repórter Josafá Batista, do jornal A Tribuna, na edição de ontem, quinta-feira? Está lá: "Bodão" pega pena de trabalhos forçados"

Cedo da manhã um desembargador me telefona sugerindo que meu "colega" respeitasse, ao menos, o encontro que está sendo realizado em Rio Branco sobre o Judiciário e Imprensa.

O desembargador disse ter tomado um susto com o título. Trabalho forçado é demais. A Constituição Federal proíbe essa prática e, no mais, não tinha nada disso na sentença, nem no Diário da Justiça. O repórter viajou.

Na matéria, ele diz no primeiro parágrafo: "Em sentença publicada ontem no Diário Oficial, a Justiça Federal condenou o fazendeiro Antônio Augusto Rodrigues de Araújo, o Bodão, a cumprir sete meses de trabalhos forçados ..."

Faltou zelo ao repórter. Prova é que mais na frente ele se contradiz e transcreve do DO: "Intime-se o réu para dar início ao cumprimento da pena de prestação de serviço e lance-se seu nome no rol dos culpados..."

Józimo Martins
Assessor de imprensa do Tribunal de Justiça do Acre

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

CERVICAL E SERVIÇAL

Além de possibilitar a construção de reportagens sem que o repórter tenha necessidade de usar o telefone, sair de casa ou da redação, o advento da internet possibilita que todo tipo de erro se propague velozmente.

Na terça-feira, o Arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacir Grechi, 71, sofreu um acidente de carro na BR-364, próximo à capital.

O site Rondoniagora, que serviu de fonte para diversos meios de comunicação, tascou que o bispo sofrera ferimentos na “coluna serviçal” em vez de coluna cervical.

No Acre, sites de supostas notícias em tempo real também reproduziram o erro. Nem mesmo a Folha de S. Paulo, cuja reportagem certamente se baseou no site de Rondônia, foi capaz de enxergar o erro e evitar a derrapada.

“Segundo o Hospital Nove de Julho, o arcebispo teve ferimentos sérios na coluna serviçal, cabeça e perna esquerda, além de escoriações pelo corpo”, assinalou a Folha.

Acabei de conferir a lista de notícias do site Notícias da Hora, do Roberto Vaz, cuja maioria dos títulos causa enjôo. Para não me alongar confiram dois: Passageiro de táxi leva tiro na cabeça em tiroteio e Polícia Federal apreende traficantes na fronteira.

Como tiro e tiroteio são ensurdecedores, fico imaginando o que fez a polícia com a droga após apreender os traficantes.

É do barulho a longa cacofonia do título “Questão de Tempo”, da escritora acreana Eillen de Paiva será lançado no Encontro de Escritores e Leitores, que está no site do Roberto Braña. O Raiva canina é uma das mais conhecidas Zoonoeses também é animal, não acham?

Eles sabem ou não escrever, não lêem o que escrevem antes de publicar ou julgam o leitor um idiota?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

PRODUÇÃO FLORESTAL

A pesquisa da produção da extração vegetal e da silvicultura, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela que a produção florestal primária do Brasil em 2003 somou R$ 8,627 bilhões, enquanto no ano anterior havia totalizado R$ 5,967 bilhões.

Os dados da pesquisa revelam que continua em declínio a produção de castanha-do-pará, que os acreanos preferem chamar de castanha-do-brasil. Há pelo menos cinco anos a Bolívia se tornou em maior exportador mundial de castanha porque compra e revende quase toda a produção do Acre e Rondônia.

O segmento da silvicultura (florestas plantadas) aumentou sua participação no valor total da produção florestal do País: representava 52%, em 2002, e passou a representar 65%, em 2003.

Já a participação da extração vegetal (vegetações nativas) caiu de 48% para 35% no mesmo período. O extrativismo madeireiro aumentou sua participação, gerando 85% do valor total da produção da extração vegetal, enquanto que no ano anterior representou 79%.

No segmento extrativista vegetal, a produção nacional de madeira em tora alcançou 20.667.884 m³ e o estado do Pará foi responsável por 52% do total. Os principais municípios produtores do estado - Tailândia, Portel, Paragominas, Almeirim, Baião, Ulianópolis, Dom Eliseu e Altamira - foram também os principais do País, concentrando, juntos, 27% da produção nacional em 2003.

O valor total da produção do segmento extrativista não madeireiro somou R$ 449,57 milhões e os principais participações vieram da piaçava, com uma participação de 27%; do babaçu (amêndoa), 17%; do açaí (coquilho), 16%; da erva-mate, 14%; da carnaúba (pó cerífero), 8%; e da castanha-do-pará, 5%.

Entre os 33 principais produtos da extração vegetal, 17 apresentaram declínio de produção entre 2002 e 2003. As maiores quedas relativas foram constatadas nas produções de ipecacuanha-raiz (-100,00%), jaborandi-folha (-26,47%), nó-de-pinho (-20,37%), castanha de caju (-18,20%), mangaba-fruto (-12,90%) e castanha-do-pará (-9,11%).

Entre as produções que apresentaram os maiores aumentos relativos, destacaram-se as de semente de oiticica (544,91%), amêndoas de cumaru (438,89%), fibras de carnaúba (43,46%), pequi (39,98%), carvão vegetal (13,90%), pó cerífero de carnaúba (9,80%), cera de carnaúba (9,55%) e coquilhos de açaí (9,53%).